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West Coast.

#3 Hilary e a primeira semana de escola

Patrícia Mota
Patrícia Mota

Todas as mães e pais sabem que as primeiras semanas de escola não são fáceis.

Quando deixei o Matias na escola pela primeira vez na creche chorei ao virar da esquina, e confessei à directora da escola, que não fica mais fácil com o número de filhos. Na California não é diferente.

Ao fim do dia fomos os primeiros a chegar e a abraçar tanto a Mercedes como o Matias. Respirámos fundo quando lhes vimos o sorriso.

O Matias na maior aliás como se pode ver nas fotos. A miss Megan disse que esteve tímido na conversa, independente em tudo que são actividades, e foi dos primeiros a terminar o almoço e a ferrar profundamente na hora da sesta.

A Mercedes nervosa, mas a elogiar todos os colegas e a professora que se esforçaram continuamente por comunicar com ela, e a dizer que amanhã quer regressar. A miss Walace aproximou-se, elogiou o esforço, e concordou que é dura a experiência de entrar num grupo feito, e sem dominar a lingua. Nada de novo. Engoli em seco, e ela continuou... "fui dar com a Mercedes em silêncio a chorar, no primeiro texto que lhe apresentei para ler."

Olhei para a Mercedes, que já estava de dentes serrados e bochechas tensas.

A professora acrescentou, "tudo normal! a Mercedes ficou aflita, como qualquer pessoa no seu juízo perfeito, perante um desafio tão grande de comunicação como este!..."

Gostei da transparência, tentei (sem êxito) não visualizar a Cuca em silêncio aflita sem entender a professora, numa turma onde ninguém sabe falar espanhol ou português... e eu própria tive vontade de chorar.

Nada diferente do que se esperava, mas confesso, esta aventura também nos pareceu uma excelente ideia com a distância de segurança de meses, e de poder ou não acontecer. À medida que se foram concretizando os planos, começou a parecer apenas uma enorme loucura.

Nesse dia foi exactamente o mesmo... Uma coisa é dizer, claro que no inicio vai ser duro! Outra coisa é viver reflectida a dureza nas bochechas da Cuca com dentes serrados.

A miss Walace rematou "só lhe podemos pedir que tente o seu melhor, uma aula de cada vez." A Cuca respondeu "I can do that!", eu entrei em apneia e viemos a correr para casa.

Não volto a maldizer os horários espanhóis no colégio, aqui saem às 2.20 ou às 1h20 na 4ª feira, e a Maria apenas 1h mais tarde.

Desde o primeiro dia, combinámos que a Mimi regressaria a casa de autocarro, e assim foi. Como não podemos comunicar com ela durante o dia, senão há o mobile violation (expressamente proibido usar tlm na escola, desde que entram até saírem dos portões), e com o respectivo punishment (grave!), estávamos literalmente a rezar que encontrasse o seu autocarro amarelo e viesse para casa direita que nem fuso. Agarrados ao telemóvel  à espera de notícias, finalmente recebemos um plim!

"Papá, podes geolocalizar-me? Acho que entrei num autocarro errado e não faço ideia onde estou..."

Vertigem foi o que se apoderou da minha cabeça. O telefone sem parar com os avós a perguntar pela neta Mimi antes de se irem deitar em Lisboa, e tivemos de partilhar a adrenalina de ter a filha crescida perdida em LA no primeiro dia de escola.

Spoiler alert, correu tudo bem, estava no autocarro certo que dá mil voltas, e chegou orgulhosa do seu feito de ter regressado a casa por ela própria, sã e salva.

Em relação à Maria, nas visitas que fiz à escola para fazer o set up do cacifo, e recolher equipamentos, fui observando famílias. Como a safada da minha filha me proibiu interagir com os seus pares, e muito menos partilhar os seus receios, alterei a estratégia e fui metendo conversa com pessoas que me parecessem mães.

Quem me conhece sabe que não sou propriamente a raínha da sala de estar, e meter conversas não me é assim logo natural, mas a Maria não deu alternativa, por isso zarpei em direcção a várias mães, sempre com a Maria a refilar e a questionar todas as minhas acções. Partilhei com elas o meu nervosismo da integração da Mimi nesta escola, sem conhecer absolutamente ninguém, sem saber os sítios ou ter um grupo com quem se pudesse sentar a almoçar acompanhada.

Acho que devo ter conseguido transmitir bem a ideia de nervos maternais com uma delas. Agarrou-me no telefone e escreveu rapidamente o numero dela, assegurando que a Mimi teria na sua filha Amina um porto de abrigo, naquela escola competitiva.

Respirei fundo.

No regresso a casa, a Maria feliz e aflita com todos os desafios, confessou-nos que ter 1h de aulas de inglês diariamente para não nativos vai ser uma excelente ajuda. E que a Amina reuniu um grupo de meninas que esperaram por ela, e se sentaram todas a almoçar.

E se a felicidade existe, é na visualização deste tipo de coisas.

Entretanto a mãe desta menina, Amina, mandou mensagem a saber que tal o primeiro dia e a convidar para gelado no dia seguinte depois do jantar. Aceitámos logo, e de repente pela hora percebemos que depois do jantar seria às 18h! e comprometemo-nos a entrar na dinâmica. 

Dias seguintes como na creche.

Crianças já sabem ao que vão. A dureza é real.

Beijos e abraços prolongados e promessas de dar o seu melhor.

Matias aparentemente sem problemas, vai dizendo distraído, "this is mine!" e muitas vezes "ohhh so nice!... " é um pagode.

Gelado às 6 depois do jantar foi no centro de Seal Beach, que é mesmo catita.

Eu comi um gelado feito na hora com morangos e mirtilos frescos que se chama Cheesecake Paradise. Não tenho definição melhor para o mesmo.

Foi um serão mesmo bom, e ficamos a conhecer um bocadinho melhor esta terra onde aterrámos.

Semana de superações de todos, eu própria colaborei na minha primeira data collection, e fui apresentada na cerimónia de abertura do ano lectivo da Universidade a muita gente simpática, mas deixo isso para outro post.

Para finalizar a semana, a Cuca recebeu uns brincos azuis como os seus olhos de uma amiga nova, e as manas exigiram levar "pelo menos sopa!" para a escola num termo. Acedi.

Há muitos pontos fortes nestas paragens. O menu escolar não é de facto um deles.

Aviso de furacão Hilary a crescer na nossa direcção.

E um convite para derby de pesca juvenil no Pier de Seal Beach. Fomos à pesca, não apanhámos nada, mas foi uma experiência divertida para todos, menos para a Cuca que se descompôs quando foi pescado um "Shark ênóme" segundo o Matias.

Ficou cheia de pena do shark, e ainda hoje me repetiu que não lhe parece nada bem que se batam palmas, se há um animal a sofrer. Aguenta coração.

A Mimi entrou num concurso de rifas, colaborou na organização do mesmo, como não?! e ganhou uma cana de pesca!

Hoje começou a segunda semana, que prometi ser menos dura que a primeira na medida em que já conhecem os cantos à casa. Espero não faltar ao prometido.

O Hilary passou de largo, mexeu as águas e fez chover muito com ventos à mistura, mas nada que amedronte quem vive junto ao Atlântico. E além disso como trouxe chuva, deu direito a chocolate quente.

Podia ser perfeitamente uma boa analogia do que nos está a acontecer, SFF.

Mexe tudo, e volta a remexer, mas no fim é apenas uma chuva tropical bem agradável que nos dá outra perspectiva de tudo. Com chocolate quente.

Assim espero.


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