#17 Se rir se chorar...
O meu jantar de aniversário foi diferente do habitual, mas foi também uma delicia.
No nosso cantinho catita juntámos 2 famílias numerosas, e apesar de não termos cadeiras para todos, estivemos muito confortáveis.
As crianças chegaram com um ramo lindo a dizer: Happy 29th Birthday Mrs. Mota (adoro!) e apesar de ser um aniversário de crescidos, o escalão sub 5 entrou em delírio.
O arroz de marisco estava óptimo, e conheci pela primeira vez uma variedade de bonbons See Candie's maravilhosa, as 7 crianças automaticamente em autogestão, e nós com programa praticamente de adultos, conversa boa e serão tardio. "A Pati tá contente!"
Depois foi tempo de fazer malas e preparar para a viagem da primavera, vulgo spring break.
Estamos prós a enfiar o Rossio na rua da Betesga, e arrancámos os 6, de malas e bagagens para San Francisco.
Apesar de ter muita vontade de conhecer, as opiniões que ouvi desta cidade deixaram-me de expectativas cautelosas...
Entre a logística de visitar um meio muito urbano com 2 meninas, um ninja e uma Mel a acompanhar, com subidas e descidas vertiginosas, programas culturais, e com tudo o que ouvi sobre o problema dos sem abrigos, fomos fazendo briefings à troupe, para controlar surpresas menos "wow".
Tivemos sorte com tudo nesta cidade.
Com o spot que escolhemos para dormir, com o tempo, com os guias que nos calharam para explicar curiosidades desta cidade, com as conversas espontâneas entre guias e filhas, que perceberam e gostaram do "Live and let Live" que se vive aqui.
Começamos por Sausalito que é como a riviera do Norte da California.
É lindo, charmoso, patusco, e muito parecido com... Cascais! São Sister Cities e tudo! Uma emoção.
O Matias como se pode ver nas fotos estava doido, a fazer poses completamente naturais, as manas a tentar acompanhar, e a Mel sempre connosco para todo o lado.
San Francisco tem uma luz e uma quantidade de semelhanças com Lisboa impressionantes.
Nos free tours que fizemos ficámos a perceber como é que a quantidade de ouro talhou esta história, como é que a arquitectura tem tanta influência francesa depois do terremoto, e como é que os empreendedores encontram em SF inspiração e fundos para fazer crescer tantas ideias brilhantes, que mudam a vida de tantas pessoas.
Ficámos também a saber que mais de 90% dos sem abrigo em SF são de outros estados, que encontraram aqui um clima tolerante à sua presença.
Segundo o guia, se existe algum ponto no mundo capaz de encontrar uma solução para este problema, será talvez SF. Oxalá esteja para breve!
No que nos disse respeito, com a troupe que levávamos, esquivámos completamente áreas problemáticas e ficámos com uma ideia maravilhosa desta cidade.
Terminámos sempre os dias rendidos à quantidade de Km que palmilhámos, e orgulhosos destes 6 sem protestos, mesmo quando na loucura do tentar chegar a todos os planos, galgámos tudo o que foi colinas até de gatas.
SF com crianças é uma experiência intensa que recomendo completamente.
A quantidade de histórias em cada recanto, os jardins, as vistas, os eléctricos, os restaurantes (obrigada pelas dicas Elaine!), as focas e os leões marinhos, a música, os chocolates, as flores por todos os lados, tornaram a nossa Páscoa diferente, mas muito docinha.
Num dos parques, entre a multidão havia uma senhora a espalhar ovos de Páscoa, e um coelho que veio apanhar sol com os seus donos. Os meus filhos acharam que aquilo tinha sido planeado para eles, e arrebataram tantos ovos que lhes valeu um pico de glicose e muita gargalhada.
Não sei se rir...
No último dia em SF o Rodrigo chamou um dos robot taxis e meteu-nos lá dentro para uma experiência futurista, e muito apreciada pelos pequenos. Reservou-nos lugar em Outubro, e tivemos oportunidade agora!
De tudo o que experimentámos nesta cidade, em que o ouro agora se chama tecnologia, penso que esta experiência foi claramente marcante. Para todos!
É impressionante o conforto da condução, a rapidez com que se adapta a tudo o que vai surgindo e a naturalidade com que ao fim de uns minutos já não estávamos com medo!
Dia seguinte de caminho às Redwoods pela The Avenue of the Giants.
Tenho um crush na Marginal de Cascais, mas esta Avenue é deslumbrante. As fotografias não conseguem mostrar a dimensão e o espetacular da paisagem.
Picnicámos num parque e pudemos estar perto de Sequóias no meio do bosque.
Valeu mesmo a pena termos subido além de SF para a California ainda mais a norte, e conhecido de perto esta maravilha da floresta encarnada.
Rumámos para sul de novo e fomos para Carmel e Monterrey.
Carmel é cenário de conto de fadas.
Quando estive pela primeira vez, o Clint Eastwood era o mayor, e em Carmel-by-the-sea além da localização privilegiada, há uma aglomeração tão grande de restaurantes bonitos, galerias de arte, lojas lindas, salões de chá e pastelarias pitorescas, que não vi em qualquer parte do mundo. A nossa maluca que nos acompanha para todo o lado, precisava de um nome começado por C, e está registada como CarMel, por causa deste sítio idílico.
A Mel pôde sempre estar connosco e em alguns restaurantes além de água com gelo para ela, também havia menu canino. Um luxo a sério. Mel verdadeiramente em "casa".
Em Monterrey os meninos adoraram o aquário, e o ambiente à volta, comeram Clam Chowder e aterraram rendidos. Até a Mel adormeceu no chão, o que dadas as suas qualidades aristocráticas é um feito.
Despedimo-nos desta espécie de residencia da Branca de Neve e sete anões, e fizemos um bocadinho do Big Sur.
Aqui mais uma vez... apesar da Marginal ser a grande favorita, o Big Sur é magnífico.
Faz lembrar a Costa Vicentina (não sei se rir...). Com esteróides, baleias e leões marinhos.
Na recta final da nossa road trip, e com 24/7 de convívio e conversa intensos, jogos, paisagens arrebatadoras, excesso de Taylor Swift, espírito aventura em altas, esperança de termos criado mais umas quantas memórias, e os km no corpo também em altas, ainda passeámos em San Luis Obispo, Solvang e Santa Bárbara...
Que lugar mesmo privilegiado é o deste estado.
Chegámos a casa moídos, só tive a percepção do cansaço a instalar-se, quando depois de um duche e pijama nos atirámos para cima da cama e adormecemos talvez antes de tocar na almofada.
Acordei a meio da noite com as luzes do quarto ainda acesas e tudo a dormir profundamente. E senti-me mesmo em casa...
No fim-de-semana ainda conseguimos fazer a volta da Biblioteca, que é um dos programas top de sábado de manhã, e alinhar bacalhau a Brás e pizza night para pôr escritas em dia com amigos locais... Tudo delícia, e vontade de reiniciar a rotina com eclipse à mistura.
Entretanto depois do eclipse conseguimos surpreender os manos com a chegada dos abuelitos. Sabemos que têm saudades, mas apanhá-los desprevenidos e fazê-los chorar de felizes, é maravilhoso. As relações de avós e netos são de facto muito poderosas.
O arranque da semana ficou muito mais doce...
A Mercedes para não variar, quando se recompôs da surpresa explicou, "isto tem-me acontecido muitas vezes ultimamente... Sinto coisas tão fortes, tão fortes que não sei se rir se chorar...
Mas é mesmo muito muito bom."
É isto.