#23 Mahalo
Mahalo significa estar agradecido. Aloha tem uma série de significados bonitos.
Que mês de Novembro…
Um dia antes de Novembro começar espectativas em altas para a festa que jamais pensei desfrutar desta maneira.
Nunca achei piada ao Carnaval, sempre torci o nariz a festas temáticas, e se alguem me falasse em disfarces, eu arranjava sempre maneira de fugir com o rabo à seringa, literalmente.
Pois que no exercício do embrace the unknown, entrámos a pés juntos pelo segundo ano, no espírito de aprimorar o disfarce em família e rir do nosso próprio ridículo.
O Matias teve desfile na escola, a sua Ms. Barr estava top, e até os pais das crianças alinharam na maluquice.
Antes de ir para o Campus achei por bem não embarcar no “all out” que a minha filha Maria nos preparou para disfarce de família, roubei uma capa de super herói ao Matias, e juro que entrei na sala de aula de uma prestigiada Universidade Americana para encontro marcado com alunos nestes preparos.
Se alguém me contasse há coisa de ano e picos… não acreditava.
Depois dos afazeres profissionais todos, fomos buscar o Matias mais cedo, e juntámo-nos a um bando de amigos pela Main Street fora num fernezim de tric or treat. O pico de açúcar a estas alturas já tinha batido records, e a quantidade de guloseimas a acumular sem parar.
Entretanto paragem técnica em casa para nos prepararmos verdadeiramente para a noite de Hallowen, envergámos pijamas de múmias, 100% de algodão orgânico (ao menos não picam!), e com teias de aranha que brilham no escuro, maquilhagem a combinar, ligaduras na cabeça, e siga para mais um ridículo super animado em casa de mais amigos igualmente divertidos com todas as figuras hilariantes que cuidadosamente envergámos.
A Jenny, que comecei por apresentar em eventos sociais como “my boss” há um ano, e que acabava sempre com ela meio atrapalhada a dizer que na verdade trabalhamos juntas, é neste momento a Chair do nosso departamento.
Depois deste ano, e de ser muito mais que a minha research buddy, e das recolhas estarem optimizadas ao ponto de não precisarmos de falar para saber o que cada uma tem de fazer, de termos batido todos os records de eficiência na gestão de tempos no lab, também há dias em que entro no carro e parece até que combnámos ir vestidas de igual... neste dia de recolhas que nos encontrámos para ir ao lab de madrugada, achei por bem reportar. Até os sapatos estavam em sintonia.
Agora já só consigo apresentá-la como “my friend Jenny, who happens to also be my boss.”
Ela não pode desmentir, e num mês em que se celebra o estar agradecido, cheguei à conslusão que tenho imensa sorte com "Bosses". Mahalo!
A primeira de todas há 20 anos (glup!), a minha querida Ft. Júlia, continua a ser uma das pessoas a quem recorro quando preciso de tomar decisões, e com quem mantenho um contacto muito próximo só para dar e receber notícias da vida em geral. Cheguei neste momento à conclusão que, modéstia aparte, tenho imensa pontaria para amigos, vizinhos e chefes. Posso ser biased, mas os meus são mesmo bons.
Adiante, a minha actual boss, veio disfarçada de cruela, mas nem com a peruca a rigor disfarçava o ar doce. O seu Colin, veio vestido de Ken. Hilariante.
A Maria acertou em cheio nos nossos disfarces porque na peregrinação do tric or treat, os nossos pijamas que brilham no escuro, deram nas vistas das multidões, e por várias vezes que nos afligimos a tentar juntar a troupe toda de novo, alguém nos ajudava dizendo, estás a procura de mais uma identical little Mummie? He’s over there!
Brilhante Maria.
Uma noite divertidíssima, e candie até ser avó, foi o balanço.
Dia seguinte, sem escola. A Maria teve o convite de um dos melhores amigos para passar o dia na Disney, e a Mercedes convidou 4 dos seus melhores amigos também para passar o dia na piscina. É Novembro na California e ningém acha estranho uma pool party.
À noite, como a nossa maneira de mostrar amor é a cozinhar fomos celebrar o aniversário do Nate com lasanha e pizzas caseiras, bolo e madalenas. Dia intenso mas em bom.
A primeira parte da celebração incluiu programa só de rapazes, com contornos hilariantes.
Dia seguinte de soccer com os Red Pandas a divertirem-se mais do que a jogar propriamente soccer, e à noite de surpresa terminamos as celebrações dos anos do Nate numa estreia com golf, boa comida e melhor companhia.
O que ficou maior fã desta experiência nova foi o Matias que à primeira tentativa fez record, e já nos fez constar que gosta de soccer e football, mas que também adora golf.
E entrámos na semana de eleições.
A California é um estado democrata, e a Kamala é daqui, por isso apesar de ter ouvido inúmeras vezes que era obvio que o resultado seria este, para nós não era de todo obvio.
Convidámos a Pamela e a Amina para assistirmos juntos com expectativas ainda em alta, e a achar que íamos assistir a história.
Jantámos lindamente, mas a sobremesa começou a cair-nos mal.
O clima de tolerância que temos vivido nesta comunidade, e a abertura de espírito com que fomos recebidos nesta “bolha” onde cabem 4 Portugais, não condiz com o discurso de ódio e segregação que aparentemente teve tantos apoiantes.
Foi de facto para nós e para as pessoas com quem estamos confortáveis o suficiente para comentar política neste canto, um verdadeiro desconcerto.
Emocionei-me com o Jimmy Kimel a descrever o que aconteceu nesta noite, no seu monólogo sobre esta terrible night...
No meu Campus, a mensagem da presidente foi imediata, e a reforçar que os resultados destas eleições trazem alegria para alguns, mas incerteza medo e ansiedade para outros. Que no nosso campus vamos continuar a apoiar o clima de tolerância e abertura, e que quaisquer comportamentos de ódio e racismo serão repudiados de forma firme.
Além disso, o departamento de relações internacionais organizou uma palestra com um advogado especialista em vistos de emigrante e não emigrante. Com base no que já aconteceu anteriormente, da primeira vez que foi eleito este presidente, alertar para as possibilidades na mudança de oportunidades e restrições de vistos, para quem veio estudar, trabalhar, ou investigar para os EUA.
Percebi que estou numa situação previlegiada comparando com os alunos que precisam de concluir estudos para obterem graus académicos, que não venho de um país tipicamente banido, e que as possibilidades se quisessemos cá ficar mais tempo existem, e são várias.
Mas tudo isto dá imenso que pensar e uma perspectiva mais clara de que caminho pretendemos seguir. Que situação bizarra em duas semanas após os resultados...
Ainda assim, e como a nossa experiência tem sido incrível, e excedeu todas as expectativas precisamente pelas pessoas com quem nos fomos cruzando e com quem nos identificamos tanto, confesso que me custa um bocadinho os comentários de superioridadezinha estilo “Shame on you Americans”.
Como se na Europa fizessemos tudo muito bonito, e tivesse um plano estratégico político impecável, zero corrupção, e nada de tendências extremistas.
Não sou Americana, nem quero ser nada além de Portuguesa. Só acedo a poder ser espanhola se o senhor meu marido aceder a ser português. Esse é o acordo em casa - cada maluco com as suas manias.
Portuguesa e Alfacinha, e como dizia o meu amigo Miguel quando casei, já foi suficiente ter casado com um espanhol para provocar o primeiro rei de Portugal, agora ter também essa nacionalidade não me parece necessário… Somos família ibérica e está tudo bem.
Nesse sentido um dos eventos que marcou amargamente este mês de Novembro foi a catástrofe Valenciana com as chuvas torrenciais e inundações mortíferas. Mais mortíiferas por desorganização política, falta de estratégia na resolução de problemas, e demora no assumir de responsabilidades.
Um caos que foi dificil de assistir a esta distância e não imagino o que terá sido viver de perto. Tudo isto, que é uma desgraça pegada, aconteceu na mesma proporção do espirito de entreajuda e missão que muitos Valencianos de quem gosto tanto, e espanhóis em geral, demonstraram.
Aposto que as criticas internacionais se forem a apontar o dedo aos espanhóis em geral como se os pudéssemos pôr todos no mesmo saco e diminuir a todos ao mesmo tempo a dizer “que vergonha, não sabem gerir problemas graves, são uma desorganização pegada, não se governam nem se deixam governar”, também não são bem recebidas. Nem pelos espanhóis, nem por mim.
Se calhar sou um bocadinho Valenciana. E Americana. E Alfacinha. E mãe de três safados que às vezes me levam ao limite. Mas se vier alguêm apontar-lhes o dedo que não eu ou o pai, habilita-se a levar com uma frigideira na cabeça. E com força.
É isto, um sentimento parecido. Menos apontar dedos e manias de superioridade, e éramos todos muito mais felizes, parece-me.
Mudando radicalmente de assunto, em Novembro as minhas alunas finalistas daqui fizeram as suas apresentações de trabalhos de investigação.
Trabalhámos juntas 3 semestres desde que cheguei, e quando as vi confiantes e empoderadas a apresentar, e depois a discutir os respectivos trabalhos fiquei mesmo, mesmo orgulhosa.
Um dos grupos teve um abstract aceite no Congresso Americano de Fisioterapia, que é "O" evento na nossa área. Vamos apresentar juntas este trabalho em Houston no próximo Fevereiro. O outro grupo foi votado como a melhor apresentação dos alunos finalistas. Mahalo!
Orientadoras rejubilantes.
Ter tido a oportunidade de as orientar com a Jenny foi um privilégio, elas é que estiveram de parabéns, mas nós é que recebemos as flores! Foram alunas aplicadas, de facto, mas foram também pessoas tão queridas que me emocionaram.
Não é muito difícil, eu sei, mas emocionaram mesmo, e acabei de reparar, que além de amigos, vizinhos e chefes, os meus alunos também são mesmo bons. Tenho pontaria de facto, perdão pela imodéstia.
Tanto em Portugal como nos EUA, juro que são impecáveis e brilhantes. Prova disso, foi que quase em simultâneo uma das minhas alunas portuguesas de mestrado que continuei a acompanhar à distância, também defendeu a sua tese, toda ela cheia de segurança, profissionalismo e humildade. Gostei tanto de a ver crescer desta maneira, que me emocionei também.
Ainda me faltam mais 2 orientandas que vão defender as respectivas teses de Mestrado até ao fim do ano e confesso que tenho as expectativas em altas.
Entretanto, a roda viva faz o tempo voar, e almoçamos sem interrupções aos 16 anos de casados com a melhor clamshouder que já provei (obrigada pela dica Colin!), e começamos a preparar mais um fim‑de‑semana em grande.
No sábado a época de soccer chegou ao fim, os Red Pandas entre treinadores e jogadores são os nossos mais que favoritos, e começou a época de basketball que gostamos tanto.
Último jogo, festa de equipa, prémios e presentes e uns cupcakes super catitas.
À tarde jogo na Walter pyramid.
No domingo tínhamos preparado a festa antecipada do 5º aniversário do Matias.
Uma quantidade de amigos que cada vez nos são mais queridos, canção do bolo em 3 línguas, muitos mimos bem bons, e o coração cheio.
O Matias, que não cabia em si de contente, dizia a toda a gente que estava mesmo quase nos five.
Durante a semana fomos até Cristal Cove, para celebrar o nosso Gabi favorito que coincidências da vida, faz anos um dia antes do Matias.
Serão excelente com a família tugo-búlgara, e uma Cristal Cove que deixou vontade para combinar outra estadia neste spot incrível, e já agora com estes amigos improváveis de quem gostamos tanto. A pontaria…
No dia de anos do Matias, recebeu um Tesla dos avós, e uma mala de viagem que lhe escolheram as manas. Dito desta maneira promete! E pusemos o trailer da Moana 2 para adivinharem o que os esperava no Thanksgiving.
A Mercedes achou que ia ao cinema, a Maria perguntou a medo se íamos ao Havaii, e o Matias rematou a apontar para o ecrã, "se é para ir ali eu não quero, tenho medo!"
Parece que o trailer é intenso…
Nesse dia, apesar de não poder ter partilhado o seu bolinho com os amigos dentro da escola, teve a leitura de um livro de dinossauros, que lhe ficou dedicado na biblioteca da escola, e um serão muito docinho com o melhor amigo.
Mais feliz só se tivesse cá os avós e os tios, que se fartou de implorar por videochamada, que apanhassem 2 aviões rápidos e viessem, sempre em frente, até chegar à California.
As avós, coitadas, em apneia a aguentar o pedido quase estóicas... só que não.
E mesmo antes da semana surpresa, o Friendsgiving a abrir as celebrações deste feriado Americano que vou importar de futuro nas nossas tradições familiares seja onde for que estejamos. Mahalo!
Mais um serão delicioso e animado em partes iguais, a nossa Mel com os avós queridos da Amina, e malas para acabar de fazer para clima tropical.
Na madrugada de sábado embarcámos rumo ao Hawaii.
Quando chegámos ao porto o Matias que ouviu falar em barco, ficou de novo muito desconsolado. "O quê, agora depois do avião ainda mais um barco? Eu não quero ir de barco, eu quero é ir para a Costa da Caparica."
Mas assim que lhe puseram um colar de conchas e lhe ensinaram a fazer o shaka, o rapaz começou a mudar de ideias, e agora diz que por ele podemos sempre ir de férias de barco.
Fizemos 4 ilhas do Hawai, tivemos sorte com o tempo, as travessias sempre tranquilas, a qualidade dos serviços a bordo superou todas as espectativas, e o que visitámos foi incrível. Incrivel fica pequeno até.
Parece que os Açores e Bali se juntaram numa explosão de ilhas que resultou neste paraíso que é o Havaii.
Eu que por ignorância achava que Cruzeiros não eram o meu estilo de viajar, com estes 3 lambões de gostos refinados, parece-me agora uma opção ideal para viajar em família. Sempre a explorar paraísos diferentes durante o dia, e sempre em festa com programas para todas as idades ao fim do dia. Está feito para tornar a experiência inesquecível. E está muito bem conseguido.
Viemos apetrechados para mergulhar graças à Janet, fugimos dos buffets e dos tours, e fizemos o nosso percurso basicamente com aluguer de carros, kayaks e pranchas em cada ilha.
Em Maui as cascatas e piscinas naturais, praias deslumbrantes, caminhos idílicos e o primeiro encontro com as tão idolatradas tartarugas marinhas.
Desde que me conheço que quero ver tartarugas marinhas. Pudemos chegar e ver de perto estas criaturas maravilhosas enquanto descansavam na areia, mas não imaginávamos que seria possível nadarmos com elas. Várias vezes.
Incrível fica de facto um adjectivo muito pequeno. Mahalo!
As manas começaram a dizer ao 2º dia em Maui, que se a viagem acabasse naquele momento já tinham adorado. E foi sempre a melhorar.
Em Hilo o melhor chocolate, mais as cascatas arcoíris, as paisagem vulcânicas, os trilhos pelo túnel de lava e pela cratera do vulcão mais activo do planeta, as praias de areia preta o cheiro a sal e a terra molhada...
Em Kona, além das praias top, e paisagens idílicas, foi votado o melhor spot para mergulhar, com os peixes que conhecemos dos aquários a nadar connosco. E com as tartarugas também. Emoção ao rubro.
Em Kawai chegámos no dia de Thanksgiving e fomos directos ao Waimea Canyon, que é também conhecido como o Grand Canyon do Pacífico. Não é tão imenso como o Grand Canyon (onde estivemos há precisamente 1 ano), mas as cores da rocha vermelha com as árvores tornam este buraco que também me arrepiou uma paisagem igualmente deslumbrante.
À tarde estivemos numa praia com 27 tartarugas (as crianças contaram-nas), nadámos com 2 Hawaian Monk Seals, e assistimos a um por do sol maravilhoso.
É difícil processar tanta paisagem, emoção, e informação bonita ao mesmo tempo.
No segundo dia em Kawai começámos por ir para norte visitar Hanalei Bay uma praia idílica onde foram feitas filmagens para o filme Piratas das Caraíbas, mas o mar estava de tal agitado que nem nos aproximamos da beirinha.
Descemos para explorar o resto da ilha e fizemos pic nic em mais um spot incrível.
Neste sítio a quantidade de peixes era de tal forma grande, que o Matias decidiu que eram demasiados e enormes, e que preferia não olhar para eles.
Terminámos a viagem no cruzeiro convictos que há um antes e um depois.
O empregado mais querido de todos despediu-se de nós com flores e tartarugas para todos, a elogiar o comportamento e educação dos lambões, além da maestria na gestão de talheres. Deixou-nos orgulhosos, contentes e ainda mais agradecidos. Mahalo!
Apesar de os levarmos ao limite do cansaço aparentemente sabem comportar-se (fora de casa) e aproveitar cada sesta possível.
O Matias continua a querer ir à Costa da Caparica, mas também diz que, agora só quer mesmo é voltar para o barco.
Chegámos a Honolulu para a última paragem, visitámos Pearl Habour com sensação de murro no estômago, e depois de tanta tensão os meninos pediram ficar só na praia.
Banhos e carreirinhas do melhor, e um por do Sol mais uma vez maravilhoso.
Gostámos tanto tanto que depois de dormirmos em Honolulu, para as poucas horas do último dia neste paraíso pediram-nos de novo para voltar a Waikiki, e não foi preciso insistir.
Prometi ao Pedro Seixas surfarmos nestas águas quentes com ondas simpáticas para todos os níveis e foi o que (quase) fizemos. Pelo menos os piquenos.
Estou a escrever no avião e ainda a processar este mês de Novembro.
Diversão pura, conquistas profissionais de todos, noites terríveis, incertezas angustiantes, catástrofes naturais, celebrações da vida, surpresas incríveis e uma visita a vários paraísos sem igual. "Life is a rolercoaster" da minha adolescência encaixa neste mês que nem uma luva.
O nosso top 3 de sítios imperdíveis por estas bandas está todo baralhado.
Mas o Hawai está no pódium sem qualquer dúvida. Que sorte tão grande.
Aloha Hawaii.
Mahalo.