#22 Pixie Dust
Pixie Dust é uma expressão aparentemente comum relacionada com a Disney.
O Rodrigo ouviu-a pela primeira vez numa reunião importante, e o significado no dicionário é: "uma substância ou influência com um efeito aparentemente mágico que traz grande sucesso ou sorte." Estou convencida que no Sul da California não é preciso ir ao dicionário para perceber o conceito da expressão. É cultural.
Como boa portuguesa de gema, a nostalgia e a melancolia, fazem parte um bocadinho da minha forma de ser.
Este exercício de escrita começou por ser uma forma fácil de dar notícias e descrever aos nossos mais que tudo, que apesar de sermos aparentemente doidos e aventureiros além de melancólicos, também somos capazes de ser gratos pelas experiências que nos vão surgindo, e de nos divertirmos com isso.
Mandamos muito mais fotografias coloridas que cinzentas, pois claro, mas neste momento, se não escrevo a dar notícias parece que estou em falta com alguma coisa.
Não é bem só pelas notícias, é também por este ser um exercício terapêutico dos bons, de enumerar uma série de acontecimentos que ao longo do tempo nos vão preenchendo a vida deste lado da terra, e a consciência dos pixie dusts que vão acontecendo.
No inicio de Setembro a Renata, que nos recebe sempre tão bem e nos orientou nas escolhas a fazer para a Maria na High School, convidou-me para partilhar mais uma tradição familiar, e assistir a um concerto no Hollywood Bowl. Cheirou-me logo a programa top.
Começamos por champanhe no autocarro, e a partir daí foi sempre a melhorar. Um ambiente incrível numa noite quente de verão, conversas boas, partilhas ainda melhores e quando a música começou rendi-me imediatamente.
Não sei bem como é que isto aconteceu, mas a Natalia Lafourcade passou-me ao lado estes anos todos. E agora não fosse eu também um bocadito obcessiva, é a artista que mais se houve cá em casa há cerca de 1 mês. Mexicana, pequenita em altura e monstro de palco ao mesmo tempo, conseguiu-nos pôr a dançar a todos e a cantar em uníssono ao fim de 2 ou 3 refrões.
O "Hasta la Raiz" é nostálgico, melancólico, e também parece um exercício terapêutico para quem tem música e poesia no corpo, e não precisa de blogs quando está longe, para se expressar.
"Pienso que cada instante sobrevivido al caminar
Y cada segundo de incertidumbre, cada momento de no saber
Son la clave exacta de ese tejido que ando cargando bajo la piel
Así te protejo, aquí sigues dentro"
E uma pessoa, desata arrepiada a cantar o refrão com uma série de mexicanos igualmente melancólicos e nostálgicos num entendimento mútuo, quase num hino às saudades.
Que maravilha de noite.
Entretanto antes de iniciar o ano dos scouts a Maria teve de apresentar o projecto de voluntariado que esteve a desenvolver durante o verão com mais duas amigas sob orientação da Pamela, no âmbito de um programa "Silver Award".
O tema do grupo da Maria estava relacionado com uma app para melhorar a "Food Insecurity" de uma comunidade de estudantes universitários.
Estudaram e discutiram a problemática, puseram as mãos na massa e conseguiram concretizar. No fim fizeram uma apresentação e responderam às nossas perguntas.
Só os projectos deste grupo de miúdas dava um capítulo inteiro, e todos os projectos apresentados foram igualmente inspiradores. Na verdade as mães das criaturas emocionaram-se durante as apresentações e não podíamos sair desta reunião com mais esperança nas futuras gerações sobre a empatia e a preocupação com o bem-estar do outro.
Que orgulho.
E ainda em jeito de novidade, a época de soccer - "football que se joga com os pés" para quem não sabe o que significa foot-ball, começou com uma equipa deliciosa.
Os pais Nate e Rodrigo abraçaram o desafio do escalão sub-6, e além da mascote e do nome de equipa mais fofos, convocaram os meus dois jogadores favoritos Matias e Kingston.
A equipa Red Pandas ainda só ganhou um jogo, mas têm aprendido a olhar para a bola - de vez em quando, a esperar a vez - quando calha, e a seguir ordens simples - muito simples. Até porque a equipa é jovem e há mais promessas de 4 que de 6 anos de idade.
De futebol, não sei bem se têm aprendido alguma coisa, mas de espírito de equipa, e de partilha do lanche são prós.
E o banner, obviamente que ficou ao cuidado do treinador adjunto e já recebeu os melhores elogios. Aposta ganha, claramente.
A nossa Cuca, no meio das agendas dos irmãos tem apreciado tempos de filha única. A adaptação a não ter turma fixa e a andar feita borboleta de sala em sala, sem tempo de recreio para convívio com os amigos que fez no ano passado é desafiante sem dúvida.
E a Cuca já não se esconde, mas também não se expõe muito.
E tem aproveitado em grande momentos de filha única.
Como a Mimi entrou num dos mil coros da sua Highschool, entre ensaios e shows começamos a ter o verdadeiro vislumbre do que será a agenda de uma adolescente.
Perdi a conta às 6ª e sábados em que os serões são a 4 em vez de a 5.
Na abertura da época de Show Choir, a Maria cantou e dançou tão bem, que claro está, emocionou as mães. Ela e as amigas são claramente as nossas favoritas, mas estou convencida que mesmo que não estivessemos biased, nos emocionavam igualmente.
Que maravilha de espetáculo Broadway.
Além de toda a energia, da produção, etc a melhor parte é ver o feliz que a Maria tem estado, integrada neste grupo, na escola nova e em cima do palco.
Para mim o ponto alto foi a reprodução do "Suffs", musical de produção americana, completamente actual, e ganhador de 2 Tony Awards.
https://www.instagram.com/suffsmusical/reel/C1ICCYovrwR/
Como mãe de filhas comecei por elevar as espectativas nos primeiros trechos... depois a Arina (filha da Renata) que parece um anjo na voz e no aspecto, fez um solo que me arrepiou toda, e a seguir juntaram-se a Maria e todas as outras meninas em uníssono, com o refrão focado nos direitos das mulheres...
“Cause your ancestors are all the proof you need
That progress is possible, not guaranteed
It will only be made if we keep marching, keep marching on.”
Num momento em que as eleições estão a poucos dias, dá vontade de continuar a cantar todos os dias pela rua fora. E a consciência disto tudo que as têm exposto é mesmo importante e necessária.
No fim do espetáculo respondi à Maria, quando me perguntou, "mamã tu estavas mesmo a chorar, não estavas? - Estava, e tive de me assoar depois. Maria adorei. Mesmo. Tudo. Foi a vez que mais gostei de te ver em palco." Desde os 3 anos que começaram a subir a palcos, e sempre lhes tenho dito a verdade, com jeitinho e às vezes com delay, quando fizeram coisas menos bem, da mãe sempre tiveram a opinião mais sincera. A Maria acreditou quase imediatamente.
Zero reparos? Zero, Maria, foi espetacular.
Se foi assim com 1 mês de ensaio, nem imagino o que será o no de final do ano. Mas de facto são campeões nacionais de Show Choir. E são mesmo espetaculares. Que privilégio...
A rotina a instalar-se, o Matias cada vez mais rendido à sua miss Barr, leva-lhe os desenhos mais lindos, apanha tesouros de manhã pelo caminho e refere-se à professora como "my Miss Barr". Creio que é recíproco, mas obviamente sou suspeita.
Com Setembro a bombar como nunca, o Rodrigo decidiu que era uma excelente opção para, ao contrário do ano passado em que celebrámos os 5, convidar todas as pessoas que foram genuínamente importantes para nós ao longo deste último ano, e contribuíram para a nossa estadia ser muito melhor que quaisquer expectativas que pudessemos ter.
Fez convite e vieram praticamente todos, portanto 48 pessoas a celebrar o Rodrigo.
Eu confesso que até tiques nos olhos tive na noite anterior, porque a boa maneira de mostrar amor segundo as nossas origens, é a cozinhar para toda a gente.
O problema, é que o nosso frigorífico não é igual ao que nós estávamos habituados na Parede, e foi uma verdadeira ginástica para manter tudo impecável até domingo ao almoço, com gelo e geleiras a complementar em estilo campismo na cozinha, mais barbecue na varanda e... aconteceu magia...
Conseguimos montar tudo a tempo, a comida estava óptima, a companhia ainda melhor, e a única coisa que nos escapou foi não termos feito fotografias com o grupo todo antes de terem começado a ir embora.
Foi tão tão bom, e o Rodrigo esteve verdadeiramente feliz e agradecido pela presença de tanta gente boa.
Para finalizar as celebrações do aniversariante, e depois de mais uma ginástica generosa e de um Pixie Dust da nossa Janet, pudémos voltar ao sitio favorito dos manos, a celebar o Pai. Com o crachá de aniversariante ao peito, todo staff lhe foi dando os parabéns.
Há um ano atrás cheios de incertezas e expectativas altas soprámos as velas ao Rodrigo em modo team building dos fantastic five e uma Mel.
Este ano recebeu bons desejos de centenas de pessoas, incluindo do Pateta e do Pluto.
Depois do show, da mega festa, e da Disney foram os preparativos para o Homecomming da Maria, primeira festa enorme da Highschool.
Fiquei contente com o outfit escolhido, para se parecer com o Leão do feiticeiro de Oz, que era o tema da festa. Apesar de ter um mulherão em casa, no humor, nas opiniões, na insolência numas vezes, e na maturidade noutras, os mega decotes, purpurinas, vestidos coleantes, e curtos não tardarão certamente, mas para já, ainda mantém o estilo que tinha, e a elegância aprovada pela mãe.
Que assim continue o máximo de tempo possível, sff.
A Mercedes nesse dia também teve programa com amigas e por isso foi o Matias que teve descanso de miúdas e passou o dia com o seu BFF. A autogestão destes dois torna mais fácil ter a dupla, que os ter individualmente.
Nos anos do Rodrigo descobrimos que há uns biscoitos deliciosos cuja receita vem de certas e determinadas famílias no Egito... são de manteiga, sequinhos, vão bem com chá e em forma de S ao contrário. Alguém conhece? Pois, chamam-se a partir de agora os ESSES egipciotugas. Pudemos prová-los na festa do Rodrigo, e passados uns dias recebemos em casa esta delícia outra vez... Soube a casa, mas com cheiro a familia de origens Egipcias o que torna tudo um pouco mais mágico.
Não sei se quem proporciona pixie dusts tem a noção plena de que os está a proporcionar, mas o efeito de reforço positivo, elogio espontâneo, surpresas delícia, ou facilitação de quaisquer logística ou situação, é tão potente, que além de cozinhar para quase 50 pessoas, espero que o Karma consiga retribuir a toda a geente e em bom o que nos tem acontecido.
Para terminar celebrações de Setembro, graças a um presente espetacular para o Rodrigo tivémos um serão sem preocupações, nem interrupções, num restaurante delicioso, onde até cocktail com Rum eu desfrutei. Inédito!
Além disso, perceber que passar um serão sozinha com a pessoa que escolhemos para sempre, e apreciar - é top! Há meses que não tínhamos oportunidade disto, e se ter amigos a ficar com 7 filhos em vez de 4 para que outros deesfrutem não se chama pixie dust, não sei como se chama.
Quando nos perguntam sobre o futuro, respondemos com o que sabemos... mas viver com incertezas é algo que é dificil de habituar.
A Mercedes ficou menos aflita quando percebeu que pode chamar casa a Seal Beach e à Parede, sem com isto estar a trair raízes, nem a a ofender qualquer das casas. E ficou mais tranquila também quando explicámos que pode levar dentro todos os lugares, pessoas, músicas, e tradições que quiser, não precisa de escolher. Cabem todos.
Com alívio genuíno, rematou, "a sério?" A sério, cada vez levas mais dentro e isso é só espetacular, Mercedes, casas, pessoas, tudo. Até te torna ainda mais interessante, só coisas boas! - "ai ainda bem..." - Acho que adormeceu em menos de 10 segundos depois desta conversa.
No concerto da Natália Lafourcade, percebi que este sentimento é um lugar comum, para quem se afasta da sua casa, e ganha mundo e perspectiva, na mesma medida que ganha saudades e aprende a valorizar o que dava por garantido.
Yo te llevo dentro
Hasta la raíz,
Y por más que crezca
Vas a estar aquí.
Aunque yo me oculte tras la montaña
Y encuentre un campo lleno de caña,
No habrá manera, mi rayo de luna,
Que tú te vayas.
Por muito que levemos dentro, e por muito convencida que esteja sobre a nossa capacidade de adaptação, como diz a Natália, "a cada segundo de incertidumbre, cada momento de no saber" toda a gente estremece. Seja qual for a espera. Seja qual for o projecto. Não importa quantos já vivemos. Frio na barriga é bom, mas também é tramado.
Quando não consigo dormir, este exercício de recapitular e agradecer o que nos vai acontecendo é muito reconfortante.
Citando o Peter Pan “all it takes is faith, trust, and a little bit of pixie dust".
Obrigada por nos acompanharem.