#10 Acção de graças e uma das 7 maravilhas do mundo
Com a vida a acontecer na roda viva que se passa em todo o lado, devo confessar que adoro este momento de pausa, em que as famílias americanas se juntam para agradecer no Thanks Giving. Ser grato deve ser uma das virtudes cultiváveis mais importantes.
A Maria teve antes da semana de pausa, um show de apresentação do curso de 6 semanas intensivas de dança em que se inscreveu. Fomos assistir, e apesar de ela ter um histórico de dança de muitos anos, e nós estarmos habituados a assistir a espetáculos incríveis da EDAM, o que conseguiram fazer em 6 semanas com um coreógrafo xpto, e uma turminha seleccionada foi mesmo inacreditável.
No fim, estávamos a comentar isto com ela, e depois da constatação do que conseguiram fazer rematou: "sim, eu para o ano quero estar no choir..." Gelei. O Choir é o coro estilo Broadway, da High School Los Alamitos, que ganha há décadas o primeiro prémio nacional de coros, ou coisa que o valha... e em menos de 4 meses, a perspectiva de continuar cá (coisa que não está de todo assumida, e que o mais provável é não acontecer) é tratada com uma naturalidade e conforto, que não deixa de ser assustador.
No entanto, é de agradecer o acolhimento e integração dos filhos em tudo que foi novidade para eles, e adiar a preocupação da desadaptação ao que era o nosso ninho.
Foco no dar graças.
Na semana do Thanks Giving decidimos aproveitar e ir com os avós passear por territórios desconhecidos, e outros nem tanto, e reviver alguns spots que nos encantaram há mais de 20 anos! Glup!
Las Vegas.
Nesta sociedade e para o resto do mundo é preciso algum cuidado quando comunicamos que a primeira paragem é a Sin City. E com as crianças a bordo.
Há mais de 20 anos vivi Las Vegas com o mano Pepi como um dos pontos mais divertidos das nossas estadias de verão nos Estados Unidos.
Pode parecer estranho para quem nunca ali esteve, mas apesar de toda a maluquice que existe nesta cidade, os casinos Family Friendly eram verdadeiros spots de entretenimento concentrado, qual deles mais espetacular e mais bonito.
Quis voltar, e trazer os meninos, apesar de não divulgar abertamente esta viagem controversa para tanta gente.
Chegámos ao anoitecer, o que é verdadeiramente impactante pela quantidade de luz (não é dificil compreender que é possível ver-se do espaço).
A questão é que chegamos logo após a F1 ter acontecido, e a experiência de circular na Strip (rua principal com casinos mais top), foi muito diferente do que me lembrava, com pontes e caminhos pedonais mais restritos à circulação.
Las Vegas não se explica. É só vivendo que se adora ou se detesta.
Está carregada de coisas maravilhosas e também super "unapropriate".
Como me disseram os colegas que levaram filhos a Las Vegas, "tal como a vida", cheia de coisas unapropriate! e que é importante as crianças perceberem, se existem coisas que não apreciamos, foco no maravilhoso. E lá fomos mais apaziguados.
É incrível a concentração de tanto luxo, em edifícios, decoração, restaurantes e entretenimento. Tudo o que é espetáculo em Las Vegas deve valer a pena.
E a pena que guardo desta viagem é, não irmos carregados de muitos mais dólares para gastar. Só em espetáculos gostava muito de ter ido ver Adele, U2, Bruno Mars, e pelo menos 3 shows diferentes do Cirque du Soleil. Com os filhos todos.
Estando na Strip, com os anúncios destes monstros de palco, tudo na mesma rua, porta sim porta sim, é fácil perder a noção da grandiosidade do acesso a isto tudo.
Apesar dos preços aparentemente proibitivos, foi difícil conseguir bilhetes livres para conseguirmos todos assistir ao show último grito inaugurado este ano, Sphere.
É onde actuam os U2, e onde está em exibição o Postcard from Earth, um filme imersivo, sobre o impacto das nossas acções no outro e no nosso planeta.
Como conseguimos levar as meninas foi uma experiência de crescidos maravilhosa. Pela mensagem e pelas tecnologias que experimentámos. É de agradecer.
O nosso Matias fez 4 anos no segundo dia em Las Vegas, e como diz o tio Pepi, se aos 4 foi em Las Vegas, preparemo-nos para os 18!
Mas de facto, celebrar 4 anos nesta cidade maluca não é muito simples, e numa conversa descontraída com outra mãe que conhecia bem a zona, consegui organizar um momento muito querido, numa loja de brinquedos dos avós de um colega da Maria, e o Matias teve uma festinha com direito a pintar madeiras e fazer slime, num spot patusco e muito familiar.
À noite jantamos com uma série de animais e acabaram os 3 na banheira em auto gestão. Adorámos todos!
Depois de Las Vegas fomos directos a Williams.
Lemos o livro (maravilhoso), vimos o filme (manhoso) e vivemos a experiência "Polar Express" no Grand Canyon.
Do mais mágico que vivemos até hoje.
Não sei se os mais contentes seriam os avós ou os netos.
Um frio de rachar, a viagem pelo Grand Canyon de noite, cidade Natal pelo caminho, chocolate quente e cockies, muitas canções em uníssono com os outros passageiros (nós fomos dos poucos caretas que não envergámos os pijamas tal como recomendado) e no fim, o Pai Natal entrou na nossa carruagem e ofereceu-nos o guizo mágico.
A loucura total.
Recomenndo completamente a todas as faixas etárias.
No dia seguinte rumámos ao Grand Canyon.
Tinha ouvido de tudo, desde awesome a amazing, e também "never disapointing".
Expectativas em altas, mas com o devido desconto, porque por estes lados abusam um bocado dos superlativos. Devo dizer que o que melhor se adapta é Breathtaking.
Cheguei a este spot no dia de Acção de Graças. E chorei.
Como é possível um buraco gigante mexer com as emoções desta maneira...
Mas é muito mais que um buraco.
É arrebatador a imensidão, o silêncio, o cheiro, a vertigem.
Abrumador.
Indescritível.
O ponto mais alto desta viagem sem dúvida.
Em Las Vegas fizemos check. Ao Grand Canyon prometemos voltar.
E dei graças.
Que jornada incrível, ainda que carregada de buracos, desvios e vertigens de todas as categorias.
Regressámos a casa com mais mundo no corpo e com vontade de mais Natal.
Graças aos avós houve Bacalhau à Brás (que não consegui fotografar porque os lambões estavam em êxtase), Cozido à Portuguesa (com a distância juro que ainda é mais delicioso), e árvore montada com jazz de fundo.
Apesar de fazermos isto tudo em t-shirt, estamos claramente a entrar no espírito.
E na sexta feira foi dia de Christmas Parade em Seal Beach. A Maria foi praticamente contratada como futura nanny por duas das mães que nos acompanharam.
O Matias, depois de regressar das férias, teve pela primeira vez uma festa de anos com amigos da escola.
Tudo em modo super herois, mais de 40 pessoas entre pais e filhos, uma bola de carnes, um bolo de iogurte e limão caseiros, e uma série de outras iguarias locais, not home made.
Acordou mais cedo que todos a dizer que já era de dia, andou aos saltos e a rir o dia todo, e adormeceu cedíssimo, rendido no sofá.
Em Las Vegas deixou ficar esquecido numa das camas, o seu doudou de nome "Wei fofo" com o qual se aconchegava todas as noites desde que nasceu.
Ligámos e escrevemos para o hotel, mandámos mensagens ao lost and found, e rendemo-nos à evidência horrorizados com o desaparecimento do seu safety blannket.
Ficou tão triste na primeira, e na segunda, e na terceira noite, que lhe prometi adormecermos juntos sempre.
E ele percebeu a impotência, e pediu todas as noites, a música que lhe cantei depois de me terem ido buscar à aflição de ter de me despedir de tudo para sempre há 4 anos.
Naquela noite escura, na vigia de tantas pessoas boas, acordei com os apitos. E a música não parava em loop, como um mantra.
E quando nos juntámos de novo 2 dias depois de ter nascido, cantei alto muitas vezes.
Quando tem medo, ou quer mimo, outra vez. E é a música do Matias.
A letra parece que foi escrita para ele, naquela aflição.
Pediu a música todas as noites desde que virou crescido em Las Vegas, e se despediu para sempre do seu Wei fofo.
O Refrão à Capela é a coisa mais fofa.
Prometo celebrar o dia de Acção de Graças, para sempre.
Que jornada incrível.