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West Coast.

#6 As nossas Pessoas

Patrícia Mota
Patrícia Mota

Esta semana o Rodrigo fez 45 anos.

As meninas foram à natação e depois juntámo-nos à festa “bye Summer” que o condomínio preparou.Apesar de ser comida feita numa fragonete, devo confessar que estava deliciosa.A comida mexicana que encontramos no sul da Califórnia, mesmo que no formato Street Food, é francamente melhor do que a que estamos habituados no nosso cantinho. 

Era só terem fornecido uns talheres ou uns pratos não deformáveis e seria “La bomba”. Vivam os guardanapos! Há que adaptar.
Por isso, apesar de não ter sido possível uma paella ou um bacalhau como é costume, ficamos todos de boca a arder, “panza llena y corazón feliz”.


Ao nosso jantar juntou-se um vizinho querido, californiano de gema, mas com muito mundo no corpo. Acho que isto do mundo no corpo é das experiências bonitas mais transformadoras em cada um de nós.Parece-me que torna as pessoas mais empáticas, tolerantes e claramente muito interessantes. 
Conversa fácil e serão divertido, foi o que aconteceu. E apesar de não termos podido oferecer abraços das nossas pessoas todas ao nosso Rodriguito (acho que era o que mais lhe estava a apetecer), conseguimos entre as 3 preparar um bolo com sabor a casa.

Quando sugeri um American Cheese Cake recomendado pelos locais com quem me vou relacionando, torceu-me o nariz, e pediu sabores conhecidos. Assim foi.

Resto da semana a mil com as frentes do costume e Matias cada vez mais autêntico no inglês. Vai corrigindo a nossa pronunciação das palavras “Mami, não é chárc, é shark”, num americano irrepreensível.
Ontem andava a jogar com outro menino no parque e de repente ouço-o a dizer, “C’mon bro, this way, this way! throw it to me!” E não deixa de ser a cada nova frase, uma constatação incrível. 

As vezes quando as insónias e as saudades apertam, tento concentrar-me no que nos dizem as nossas pessoas.

Que a experiência e a educação são os melhores activos que se pode ter, mesmo comprometendo alguma liberdade financeira (Miguel obrigada, durmo melhor desde a nossa conversa ;) , e mais que não seja pela nova língua aprendida sem traumas nem esforço, pelo menos para um destes 5 elementos... já valeu a pena.

Numa das reuniões de pais que tive explicaram-me que as escolas onde andam os meus meninos são Blue Ribbon que significa a mais alta distinção em educação, civismo e desporto.

Para o civismo notamos logo a diferença: prémios para empatia, distinções por atitudes bonitas no recreio, serviço de voluntariado à comunidade (quando participarmos no primeiro logo vos conto).

No desporto a Maria que tem educação física todos os dias diz: nunca corri tanto na minha vida, os meus joelhos doem imenso! seja o que for que tenhamos para fazer em cada aula, começamos sempre por dar 3 voltas ao campo (que é um relvado enorme!).

Na educação, para manter o Blue Ribbon há tantos anos significa um trabalho constante. Ou seja, se com tudo o que é facilitado no processo de aprendizagem, os alunos atingem uma performance abaixo dos 70%, os respectivos professores disponibilizam apoio extra em horário previsto (antes das aulas começarem. Não se chama apoio para coisa nenhuma, está organizado desde o primeiro dia, e chama-se período zero.

A Maria começou logo a frequentar no período zero as aulas de inglês para internacionais, de modo a conseguir integrar-se rapidamente. Neste momento usa o período zero para esclarecer dúvidas de trabalhos de casa, ou para classes de dança em que se pode inscrever, pois no último teste de inglês superou a pontuação que precisava, e já deixou de ser obrigatório frequentar este período. Então, antes de início das aulas às 8h30, o período zero proporciona apoios variados para cada circunstância.

No caso da Mercedes, como em termos de compreensão escrita está a ter maiores desafios, a escola disponibilizou uma “reading teacher” só para ela, 20 min por dia, todos os dias menos à 4a feira, pois sai mais cedo. Ontem depois da aula disse, “mamã, estou a compreender pela primeira vez na minha vida que as letras em inglês soam completamente diferente do português ou espanhol. A professora vai ajudar a descodificar, foi o que ela me disse. É mesmo como se fosse outro abecedário”.

E de facto, apesar de soar bizarro, os professores que teve no instituto espanhol foram sempre não nativos. E a pronúncia dos sons em inglês “espanholado” na cabeça dela faz um nó, segundo a própria.

Neste momento consegue conversar aparentemente sem esforço e sem pronúncia cámon. Mas se tem de ler e escrever, é outro desafio. Dito isto, contou-me a professora da Mercedes, que durante as aulas para se despachar e ir para o recreio, desiste de estar sempre a traduzir com o programa que tem no computador, e já se vai aventurando em responder diretamente em inglês.

Boa sorte para a reading teacher, espero com a sua preciosa ajuda um dia poder ser audiobook por opção, e não por obrigação diária, para que consiga entender o que está a ser pedido em problemas de matemática, poesia, ou romances.

Penso também que já valeu a pena por outro aspecto que os meus filhos estão a sentir na pele. Esta integração de todos os meninos, e apoio para que se integrem, e atinjam todos os resultados esperados, é novidade. Sem ter de assinar um documento antes do ano lectivo começar (pela primeira vez em 10 anos), a dizer que compreendo e concordo (LOL), que se os meus filhos tiverem uma performance de aprendizagem, ou comportamento desviantes, somos convidados a procurar alternativas.

Ser possível ser integrado e brilhante seja com mais ou menos trabalho, mais ou menos ajuda, é algo que quero que retenham para a vida. Já valeu a pena…

Não querendo parecer injusta, confio mais neste ranking Blue Ribbon integrador, que no ranking segregador, que compactuamos e assinamos docs anualmente. E que atira as escolas públicas da península para o fim, e não para o topo.

De resto a vida vai correndo, Maria Joana, toca praticamente todas as noites, alternado com as doce, Deolinda, Márcia, Salvador e Quatro e Meia, em loop.

Nos nossos passeios conseguimos enfiar em 3 bicicletas, 5 pessoas, compras, mochilas e afins, e chegar aos destinos, para já, todos impecáveis!As sextas feiras à noite de Setembro continuam a ser na praia, e é um programa que até a Mel está fã. 

Além disso, a nossa casa de Seal Beach é cada dia mais casa, graças também à rotatividade de vizinhos que deixam ao ar livre, o que não podem ou não querem levar para novos lares! e os meus filhos vibram com estas garage sales diarias a custo zero. 


Trouxeram-me no fim‑de‑semana um quadro para casa, estilo Sporting, mas em vez de verde lindo estava um tanto escuro. De surpresa com giz mudei-o um bocadinho, para integrar o lema da escola da Maria. Adoraram!

Hoje estou a escrever dentro do avião para Toronto, para apresentar pela primeira vez na ICS2023, junto dos maiores cromos que conheço.
Soa incrível, mas custou-me muito sair de casa e deixar os meus tudo noutro país, sem a rede das nossas pessoas. E deu-me a volta ao estômago. Literalmente.

Entre família e amigos devo dizer que tenho a melhor das rede que há. E esta experiência seria só espetacular se os tivesse sempre por perto. É um preço tramado, este. 

Força Rodrigo! prometo aproveitar ao máximo e fazer valer a ginástica de um pai de 3 e uma Mel! Sozinho, na Califórnia… glup!

Até já.





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