# 18 Land of the free, home of the brave
Sempre vibrei com hinos. Apesar do tom bélico, achei sempre graça a ouvir jogadores emocionados antes dos jogos a entoar uma espécie de discurso motivacional para o confronto.
Penso que é uma pena em Espanha não existir o poema a acompanhar a música, faço questão que os meus filhos saibam bem o hino Português, e aqui neste destino a devoção à bandeira e ao hino são, do meu ponto de vista, muito bonitos. Além do hino ser cantado diariamente, e sempre antes de todos os jogos a que fomos assistindo, agora as manas andam a ensaiar auditions para as cerimónias do final do ano, e cada vez gosto mais.
Este mês da Liberdade em que vibrámos à distância, foi muito acelerado, e começou da melhor forma com os preparativos para a festa da Mercedes. O Matias teve direito a super heróis, a Maria teve direito a partido oficial da nossa equipa favorita de Basketball, e a Mercedes estava desolada de não poder fazer a mesma coisa.
Sem grandes ideias, adotou a estratégia da mãe e atirou-me numa manhã à despedida da escola: "Mamã, não sei o que gostava de fazer na minha festa, mas tenho a certeza que tu, que me conheces e sabes o que eu gosto, vais ter uma ideia mesmo boa, tenho a certeza, mamã! Não te preocupes que eu tenho a certeza que vais conseguir!"... Obrigadinha!
Procurei cavalos, póneis, e quintas com festas.
Descartei os balúrdios, depois descartei actividades duvidosas para a ética da Cuca (havia uma festa que consistia em pintar um pónei branco para o transformar num unicórnio... e imaginei a cuca a questionar tudo relacionado com isto)
Acabei a contactar um centro de resgate marinho, cujos voluntários foram uns doces, e apesar de não organizarem festas de anos, disponibilizaram-se para nos receber, e explicar tudo relacionado com os pacientes internados.
A Maria preparou o convite e voilá!
Quando a Maria mostrou o resultado à mana, emocionou-se, adorou a ideia, e pediu para imprimir em papel muitos para ter a certeza de convidar todos os que lhe apetecesse.
No próprio dia a Mercedes teve uma série de surpresas.
A da sua mana Mimi ao entrar na escola foi para mim a mais inédita e espetacular de todas.
Tratou de tudo sozinha, fez pagamentos com o seu cartão e assinou waivers. Grande Mimi.
O Rodrigo fez a vontade de imprimir "por excesso" convites em papel e soubemos depois que ela distribuiu tudo...
Perdi a conta às confirmações e na véspera partilhei com os abuelos que até professoras me estavam a responder, que faziam todo o gosto de acompanhar a sua querida Mercedes na festa de aniversário! e que o bolo era por isso manifestamente pequeno, e o lanche provavelmente também...
Abuelos voluntariosos e com jetlag, resulta em várias tortilhas de batata feitas durante a madrugada! Que alívio! Estavam uma delícia e voaram!
Apesar do sítio ser a 45 min de distância, estávamos lá todos pontualmente e os voluntários explicaram tudo como se estivessem habituadíssimos a dezenas de crianças a fazer perguntas, e a controlar o possível ruído.
Como é uma instituição sem fins lucrativos, mas com uma missão bem definida e com várias opções de suporte, os pais dos convidados compraram merchandizing, fizeram diversas doações, e apadrinhamentos de focas e leões marinhos. No nosso caso, o Elmer foi o feliz contemplado.
A equipa ficou tão agradecida que ofereceram um mini leão marinho à Cuca, que o guarda religiosamente.
Regressámos a casa carregadinhos de mimos de todos os amigos, com sensação de dever cumprido e com um afilhado foca. Melhor é mesmo difícil.
No dia seguinte rumámos todos a San Diego. La Jolla não desaponta, nem Oldtown, com a forte influência mexicana.
Desde que conheço o meu sogro que me fala no Casino Barona, e no regresso de San Diego toca a fazer mais um check na bucketlist e a ir visitar o dito.
Casino sem fumo (top!) e os primeiros autênticos Barona a visitar este casino foram os nossos!
Fim de semana intenso e bonito, nas mesmas proporções. No regresso a casa, matámos saudades do amigo mais irresistível que fizemos ultimamente.
Durante a semana a roda viva do costume, com mais desafios e oportunidades top.
Tive o privilégio de reunir com os Faculty e os alunos de doutoramento da University of South California, e planear possíveis colaborações futuras.
E no meio da semana tive o meu primeiro jantar de amigas, no 40º aniversário da Elaine.
Conheci mais uma mão cheia de mães, todas tão diferentes e todas tão boa onda. Espero mesmo que seja o primeiro de muitos!
Noite de gargalhadas, bons petiscos, e deliciosos cocktails. Obrigada Elaine!
Chegou a um momento que a minha fraca tolerância a cocktails me obrigou a pedir comida urgente, não fosse eu começar a cantar fado no meio do restaurante.
No fim de semana conseguimos organizar-nos para além das actividades do costume e fazer mais um bocadinho de turismo. Venice e os seus canais, a praia que não convence as manas, mas que é paragem obrigatória, Beverly Hills e Hollywood.
Chegamos a casa rendidos, mas contentes. Dia seguinte de aproveitar ao máximo mais uma vez e rumar até Balboa, Newport, Laguna e Dana Point.
O amigo Carlos a acompanhar com a sua energia invejável e histórias dignas de romance.
Mais um dia maravilhoso para guardar.
Entre os fins de semana animados tentamos todos acompanhar com a animação típica das semanas de escola, respectivos trabalhos e 327 actividades/programas/compromissos.
Desta vez a semana foi marcada com os dias de open house, que significa podermos visitar e conversar com cada um dos professores, ver os trabalhos que foram desenvolvendo os 3 ao longo do ano, e ter um bocadinho melhor a noção do porquê ter sido mesmo tão fácil e tão rápida a adaptação destes 3 neste sistema de ensino.
Não podíamos ter tido mais sorte com as pessoas que nós e os nossos filhos encontraram ao longo deste ano, desde professores, staff atento e amigos de todas as idades. Além disso a abertura destes locais e deste sistema para tudo o que é novas culturas, línguas e experiências anteriores a nível de aprendizagem é genuína. E incentivada.
Tónica comum: os professores dos 3 embrenharam-se com os nossos filhos para terem a certeza que lhes construíam a confiança para tentar dar o melhor no que lhes é proposto, e foram sempre reconhecendo o trabalho.
O Matias brincou mais este ano na escola do que na vida inteira dos seus 4 anos, mas é de facto trilingue, explica eclipses e o ciclo de vida das borboletas como gente grande, e nunca houve 1 dia de não querer ir, nem de estar à minha espera para sair da escola... dá que pensar!
Notámos que há duas grandes diferenças nas nossas experiências anteriores: brincadeira o mais possível sem stress de alfabetização precoce no pré escolar, e incentivo à leitura permanente nas mais velhas. O Matias esqueceu-se completamente do que são fichas em papel e as manas têm como ponto alto da semana ir à biblioteca descobrir o que lhes apetece.
Os abuelos cada vez mais afoitos em tudo o que achavam ser impossível antes de chegarem, deslocavam-se a pé, de bicicleta, e de carro independentemente. Fizeram várias piscinas para compras e mais compras, interagiram com quem foi preciso, e até foram levar e buscar crianças, sem pestanejar. Uns valentes!
Para o último fim-de-semana de abuelos guardámos As Sequóias.
Mais mundo no corpo de todos, dentro de um carro que parecia um Monster Truck, uma casa que parecia feita para os meus filhos, e a proximidade com o Parque Nacional que mais gostei até hoje.
Nesta altura do ano as Sequoias estão ainda muito frescas, mas com a ajuda da Elaine conseguimos equipar os abuelos e os filhos todos para estarem confortáveis no bosque mais bonito que vimos até hoje.
Energia destas árvores é quase palpável. As maiores e mais antigas criaturas vivas conhecidas no planeta. California a acumular mais esta maravilha do mundo.
Passámos um fim-de-semana maravilhoso, e vamos plantar uma Sequoia que trouxemos do parque com 5 cm de altura na Parede, só falta descobrir o sítio ideal!
A estadia dos abuelos a terminar, e apesar de lhes sentir o deslumbramento contido, a realização que muitas das ideias que tinham sobre estas bandas não corresponderem exactamente à verdade, e as reclamações sobre o clima da California, penso que desfrutaram em grande deste sítio privilegiado.
Aventuraram-se para todo o lado a vontade, desfrutaram de netos, e regressaram a casa com mais bagagem do que chegaram!
Por cá, a sensação de vazio nos manos depois das despedidas é difícil de gerir... A Cuca foi apanhada em flagrante.
Com o ano lectivo a terminar chegaram os state testings que implicam um stress adicional em todos cá em casa. Além disso, as seasons dos desportos também a encerrar, com eventos de celebração de tudo e mais alguma coisa, snack duties (preparar lanches para equipa), e um sem fim de logísticas igualmente divertidas e desafiantes. É de facto um sempre em festa!
Confesso que tenho alarmes para tudo o que são actividades minhas e dos meus dependentes todos, e mesmo assim fico confusa se o alarme avisa algo que não estava a contar, o que acontece com alguma frequência...
Entretanto nesta época de finalizar do ano também percebemos que há distribuição de prémios nas escolas, e que pretendem reconhecer os alunos em várias vertentes.
Tanto a Maria como a Mercedes receberam convites para a familia poder assistir na cerimónia no fim de Maio... Já me emocionei (como não?!) só com as nomeações, na constatação de como estávamos todos no primeiro dia de escola, e como estamos todos agora...
Para mim seja lá o que for, já ganharam!
Entretanto, um dia na escola ouvimos a palavra "Setúbal" com pronúncia perfeita e ficamos logo em amena cavaqueira com mais uma familia de origem Portuguesa.
E entretanto fomos convidados para as festas de Maio, e lá fomos nós para Artesia.
Optámos pelos bifes, que no tempero do alho com os coentros nos levaram para um êxtase maravilhoso. Famílias de origens comuns, gente autêntica e uma casa portuguesa, com toda a certeza, onde fomos recebidos com a generosidade lusa que nos caracteriza bem.
Percebemos que Maio é um dos pontos altos nesta comunidade, o Sr. Padre veio da ilha Terceira, e aceitamos logo o convite para mais uma festa na semana seguinte.
Missa em português, petiscos, e "vacada", com a promessa de não magoar animais - requisito explicito da Cuca - que está em linha com as leis de protecção dos animais na California.
Nesta terra onde nos sentimos muito mais livres do que estrangeiros, é inevitável percebermos que nesta comunidade de origem portuguesa, há muitas histórias de bravura.
Não é à toa que o hino americano me arrepia sempre nestes versos finais.
Bifanas no pão e no prato, tempero de ir às lágrimas, Terço pelas crianças, Pastorinhos de Fátima, Vacada (e muita emoção na vacada), bailarico e mais bailarico. Que sexta feira mítica!
Trazemos de cor os Heróis do Mar e o nobre povo. E estamos confortáveis nesta casa de bravos.
Só faltam mesmo cá vocês.
De resto, está tudo!