#19 The power in you
Maio foi de longe o mês mais carregadinho de actividades desde que aqui chegámos.
Decisões e autorizações sobre o futuro, art festival, state testings, rectas finais dos anos escolares, ensaios para tudo que foi shows de fim de ano, tryouts para os desportos dos anos seguintes, acampamentos de girl scouts, sessões de esclarecimento sobre as escolas para onde irão no próximo ano, awards nights, graduations/promotions/como se chame a cerimónia (os 3 mudam de escola e celebram o fim do ciclo), festas de fim de ano em loop, e arranque de novo projecto de trabalho. E visitas que nos aquecem o coração... e emocionei-me mais este mês do que em toda a estadia...
Depois de muito ponderar, e contactar as respectivas partes das nossas âncoras profissionais a Portugal vamos estender a nossa estadia mais um ano. Quando apresentámos a porposta à equipa familia, a reacção foi imediata.
Queremos ficar. Sem hesitações.
Não deixa de ser assustador, e advertimos que o projecto foi estendido mais um ano, e que em Agosto 2025 é o fim do mesmo, que depois disso, se tudo continuar como está, regressamos mesmo à nossa costa Oeste na Europa. E as manas argumentaram que tudo bem, mas que se temos mais um ano para continuar a conhecer esta costa e esta comunidade, e tudo a que temos direito, toca a aproveitar e regressar com a bagagem mais cheia de mundo.
É inevitável comparar as reacções das manas, com a postura de há um ano atrás, expectantes, mas cheias de incertezas.
Quando nos propusemos a esta aventura, o que mais amedrontava as duas manas era o falhar.
Na escola, nos testes, nos desafios, na adaptação à mudança. Diziam coisas como, e se eu não conseguir ter boas notas, e se eu não tiver amigos, se não conseguir explicar o que preciso e estiver sozinha, e se me perder e não souber onde moramos, e se ...
E nós, mal ou bem fomos tentando tirar peso dos medos. Chegámos a dizer, se vocês não atingirem os resultados esperados, e regressarmos a Portugal e tiverem de repetir o ano, não faz mal! O que vamos experimentar e as aprendizagens que vão viver não se aprendem nos livros!
Mas esta conversa não correu nada bem porque as afligimos ainda mais...
Regressar a Portugal e ter de fazer tudo outra vez, e repetir o ano?!
Mas está tudo maluco?? Eu não quero isso!
Eu também não!
Choro e lágrimas à mistura, mudamos estratégia imediatamente, para lhes assegurarmos que tínhamos a certeza que isso não ia acontecer e que íamos todos tentar dar o nosso melhor, e quem precisasse de ajuda tinha de pedir imediatamente todos os tipos de ajuda, em casa e na escola, e que prometíamos não desconsiderar os medos e ter alguma calma quando tentássemos relativizar para não as afligirmos mais, e estar sempre disponíveis. Nem que não dormíssemos, quando chegassem a casa, estávamos mesmo disponíveis para ajudar no que precisassem da escola.
E assim foi.
Voltei a esta foto de sorrisos nervosos no arranque deste ano há uns dias...
Os 3 manos foram verdadeiros embaixadores e intermediários das relações internacionais mais deliciosas, e tenho a certeza absoluta que apesar de todos os tropeções e sobressaltos desde que pensámos em vir pela primeira vez, o Universo foi mesmo gentil em ter posto nos nossos caminhos as pessoas que conhecemos durante este ano, desde colegas de trabalho, alunos, amigos, professores e staff nas 3 escolas diferentes, vizinhos, treinadores, enfim, toda a comunidade em que aterrámos foi facilitando este processo enorme.
Maio proporcionou a constatação e celebração disto tudo.
Começámos por ir assistir à noite das artes na escola da Maria.
Comunicou-nos que íamos assistir ao coro a que pertence, e que tinha conseguido um solo.
Já me tentei desculpar várias vezes, porque apesar da honestidade ser das coisas que tenho educado os meus filhos para ser valorizada, quando a Maria me perguntou se eu achava bem que fizesse audição para solo eu perguntei, mas para dançar ou para cantar?
E quando me explicou que era para cantar eu tentei demovê-la fazendo a analogia com duas palavras das quais me arrependo: "papagaio em agonia".
Tenho a certeza que quando disser aos meus filhos que o resultado do que eles estiverem a fazer é incrível vão acreditar em mim, porque também uso "papagaios em agonia" para explicar o que me parece dalguns dos seus projectos.
A Maria enraivecida ensaiou por conta dela, fez as audições e conseguiu uma frase a solo. E eu engoli o feedback nada construtivo que lhe dei. Nessa noite além da demonstração de tudo artistico do que foi feito durante o ano, o coro cantou, a Maria brilhou e em nada se pareceu com um papagaio, e depois ofereciam a flor que escolheram a alguém especial.
A Amina, com quem tropeçámos no dia do set up do locker, e que esperou pela Maria para almoçar no primeiro dia de escola, que lhe ensisnou uma série de expressões cool e sabores de cá, que a guiou na escolha de companhia para estar, e que lhe apresentou uma série de miudas impecáveis e que a integrou no grupo de Girl scouts foi quem recebeu a flor.
E a Maria disse-lhe: "thank you for making my life so much easier in school this year. You are an amazing friend."
E as mães assistimos e aguentámos estóicas, mas eu tive muita dificuldade em não me desmanchar.
A Pamela que é a mãe desta miuda incrível, e que também recebeu a Maria nas Girl scouts onde é lider, só pode estar orgulhosa pela generosidade genuína que na adolescência a filha foi capaz de demosnstrar com a nossa Maria.
Para encerrar o percurso de Girl Scouts este ano, fizemos um acampamento de mães e filhas no Camp Sherman com diversas actividades de team building, desportos vários, caminhadas e passagem simbólica para seniors. Tudo preparado com mensagens individualizadas a cada uma delas, e oportunidades várias de assistirmos à interacção entre amigas.
Adorei.
Numa das actividades as filhas foram instruídas a pôr o "barco" na horizontal durante uma canção completa do "row row row your boat".
Discutiram estratégia e falharam 327 vezes. Só quando conseguiram de facto funcionar como um todo completaram o desafio. Demoraram um bocado enorme.
Depois desafiaram o grupo das mães a fazer o mesmo e nós lá fomos, habituadas ao que é ser enxovalhado por teenagers.
Só que não!
Conseguimos directo e a cara delas quando conseguimos à primeira foi impagável. E hilariante! Como diz a Pamela:
"TAKE THAT GIRLS!... WOHOOOO!!!"
Foi um fim-de-semana de introspecção e agradecimento.
Há um ano atrás, quem nos diria estarmos integradas desta maneira, no meio do nada, com um grupo de mulheres boa onda, a ter oportunidade de viver esta experiência.
E a cantar ao relento.
Despedimo-nos do Camp Sherman de coração agradecido e encolhido, e antes de regressar a casa ainda tivemos oportunidade de conhecer uma pista de gelo onde a Amina tinha um encontro.
Adoro este video que ilustra o que foi este ano entre teenagers.
Que sorte enorme!
Voltámos para casa e apesar do pai Rodrigo ter gerido todos os afazeres dos rusinhos com maestria, foi chegar a casa e tourear o caos que se instala num instantinho.
Matias vai pintar (motivo de aplauso para quem anseia ver o filhinho finalmente a interessar-se por lápis de cor), e a seguir Matias choca com a irmã do meio e os pais duvidam em ir à urgência.
A cuca preocupada com a capacidade de sorrir durante no início da semana dos awards night para onde as manas receberam convites. Aparentemente o lábio inferior recuperou bem do lenho que a cabeça do irmão lhe fez e está neste momento, tudo no lugar.
Se há awards na preeschool desconhecemos, pois de parte do Matias não recebemos convite para familiares de premiados. Pode ser apenas por falta de prémios neste escalão, mas de facto aqui, não constam.
Primeira awards night foi a da Maria, recebeu 2 prémios e garantiu-nos que não valia a pena filmar mais pois já não se qualificava nas outras categorias.
Como é uma chata insistiu que eu não gravasse mais prémios,e eu cedi. Valeu-nos um filme de uma das mães amigas que registou o Outstanding Academic Excelence Award, que aparentemente é uma big deal que fica registada no histórico escolar para sempre.
O tempo que a Maria demora a levantar-se, e a nossa não reacção demosntram bem a surpresa.
Parece que afinal não vai repetir o ano! Que orgulho tão grande.
Rodear-se de amigas boa onda, e academicamente premiadas e ainda por cima giras que dói, superou todas as espectativas e temos a certeza que o contexto influencia muito também o sucesso.
Por isso mais uma vez agradecidos ao Universo e arredores.
Saímos dos prémios a correr para ir deixar o Rodrigo no Aeroporto para ir a NY.
Prometemos reportagem minuciosa para a noite de prémios da Mercedes e lá fomos nós no dia seguite...
Apesar de sorriso contido com lábio que ainda não estava OK, lá foi ela toda contente só com a nomeação.
Apesar de todos os receios, trabalhou que nem uma louca, leu os 40 livros em 40 semanas, chegou com confetis no cabelo a casa, e vinha orgulhosa de ter recebido convites para os familiares irem assistir à noite de prémios para onde estava convidada.
Conseguiu o mesmo prémio em Outstanding Academic Excelence Award como a mana, e a professora atribui-lhe também o prémio estrela da escola (Heart and Soul) e nesse momento arrumou connosco. Choradeira pegada.
Depois dos prémios começõu a temporada de promotions/graduations e afins.
Dia seguinte começou no meu campus com os meus queridos alunos.
Tenho um chrush na categoria alunos, mas continuo a achar que os melhores calham-me sempre na rifa. Apesar de ter estado com este grupo apenas na recta final, fiquei mesmo contente de os ver terminar assim...
Nesse dia à noite chegaram os tios Marcos e Miguel.
Com tanta gente que há no mundo, é incrivel como algumas das pessoas mais interessantes que há são família!
Como sempre, foram uns dias maravilhosos, e os meus filhos, apesar de não os verem com a frequência que gostávamos, reagem como se os vissem todos os dias.
Até o Matias que aparentemente tem mais memória do que parece se alapou directamente e não os largou o tempo todo!
De surpresa montámos jantar de aníversário e trouxemos pandilha de super heróis para celebrar com o tio Miguel o seu 40º aniversário!
O tio Miguel atacou as Madalenas antes do tempo e estávamos a ver que não conseguíamos surpreender com especialidade caseira de pastelaria! Por pouco objectivo atingido!
Entretanto, para encerrar o fim-de-semana, o Rodrigo tinha combinado uma paella com um dos casais que conhecemos na comunidade, e o que parecia ser um almoço informal em casa deles, resultou ser uma mega festa, com a Paella como prato central para mais de 40 pessoas.
Ficámos com tiques nos olhos quando percebemos o tamanho da paellha e aventurámo-nos a fazer antes uma mega tortilha para juntar à Paella e dar almoco às dezenas de convidados.
Quando lá chegámos percebemos pelo tamanho das paellas que teríamos de ser creativos, e também percebemos que a generosidade dos locais continua em altas.
Foram perguntando se o que prepararam de entradas era parecido com o que temos saudades, feito com iguarias que encomendaram online.
Além da paella de frango sem bunny (tive de desossar o frango para caber o arroz, foco na creatividade), houve uma paella com bacalhau e uma catrefada de outros peixes e mariscos, vinho do Porto e a Mariza a tocar em loop... e todas as famílias que chegaram traziam ou uma tapa, ou uma sobremesa incluído flan de huevos, bebidas várias e um ambiente maravilhoso.
Foi como se tivessemos de repente dado um almoço para um grupo de novos amigos, numa casa que apesar de não ser a nossa, sentimos como se fosse!
Obrigada de coração aos anfitriões.
Entretanto eu comecei o curso intensivo de verão para o qual fui convidada, e apesar do stress inicial de preparar uma disciplina pela primeira vez, os colegas, as logísticas, as infra-estruturas, e o principal, a energia dos alunos, já me cativaram.
Acabo derreada cada vez que dou esta aula de 4h, mas muito contente.
E nesta semana foi também o dia da promotion da Maria.
Na preparação deste evento, recebemos um email a pedir autorização para mencionar a Maria durante o discurso, e dissemos logo que nos sentíamos lisongeados com tal proposta.
A Maria recebeu das primas em Chicago um carregamento de vestidos para escolher, e a Elaine tratou do cabeleireiro.
Sou suspeita, mas estava deslumbrante.
Antes da cerimónia o principal perguntou à Maria: "A tua mãe contou-te alguma coisa?", e a Maria confusa perguntou, "sobre o quê?" e ele rematou, optimo! - e foi para o palco!
Entretanto quando o Principal, Mr Coutermarch começou o discurso, e apesar de sabermos o que esperar mais ou menos, tive alguma dificuldade em manter o filme estável...
A história da Maria nesta escola não podia ter sido melhor contada...
Que nos lembrem num momento destes que a vida é uma série de relações, e o valor da vida está no valor que pomos nessas relações, inspirado no percurso dos filhos arrumou connosco e emocionámo-nos todos...
Tenho a certeza que o tempo em que a Maria esteve nesta escola se sentiu sempre apoiada e valorizada.
Os aplausos dos pares, arrumaram com qualquer réstia de estoicismo dos progenitores da criatura.
E a seguir cantaram o que andaram ensaiar tanto tempo, e eu não ouvi papagaio algum, e só pensava por que motivo não me lembrei de trazer lenços ou um rolo inteiro de papel...
No fim da cerimónia os convidados que a Mimi fez questão de trazer, e que a tratam como "framily" encheram-na de mimos, e eu outra vez a pensar nos lenços...
Não há palavras para agradecer convenientemente, a todos e a cada um dos que se cruzaram connosco neste lugar... e que fizeram com que os nossos filhos adorem cada uma das escolas.
Depois disso celebrámos com comida italiana, e espero lembrar-me deste dia feliz muitas vezes, e sempre em noites de insónia...
No dia seguinte, com sensação de resaca, foi o evento da semana internacional em que me voluntariei para ajudar na apresentação de Espanha!
A apresentação foi na escola da Mercedes, e a Maria tinha dia livre, por isso fomos as 3 preparadas para correr à frente dos Touros.
Eu fiquei com a parte da arte e adorei os touros estilo picasso que os alunois do 1º ano decoraram. Depois fizemos apresentação interactiva, dançaram flamenco e Macarena, e comeram umas tapas.
Tudo um êxito!
E enquanto me lembrar, não me volto a voluntariar para eventos deste tipo!
Que trabalheira sem fim!..
Entretanto o Matias vai passar para a escola dos crescidos e também teve a sua graduation party.
Uma celebração estilo pic-nic, e ele sempre orgulhoso dos seus trabalhos e a apresentar-nos a todas as professoras. Fala 3 linguas, ou fala mal 3 linguas, não sei bem.
Mas aqui na escola faz-se entender sem problemas. Parabéns Matias...
E por fim foi o último dia de aulas e em simultâneo o "clap out" da Mercedes. Fizeram cerimónia estilo promotion, com discursos claro está, comovedores, e uma música que nos arrumou outra vez...
"And it's time to say goodbye but don't cry... this is our time!"
...e o "clap-out" que é como quem diz, um corredor humano feito por todos os professores, staff e alunos da escola dos outros anos, os pais e famílias no fim do corredor a aplaudir e a desejar o melhor que pode haver, para estes finalistas na saída da escola!...
Depois da festa, no último dia de aulas, parece que é tradição encontrar-nos todos na praia, e depois do almoço de filha única, lá foi a Cuca ter com os amigos!
Estava Seal Beach em peso na praia. A Maria foi almoçar com as amigas e também foi lá ter, e depois da praia, foram as duas para festas de graduation em casas de amigos.
Nós jantámos só com o Matias, e estávamos incrédulos em como iso aconteceu assim tão depressa!
Que comece o verão!
A diferença entre o primeiro e o último dia de escola é abismal.
A Maria queria fugir...
A Mercedes escondeu-se na casa de banho tantas vezes...
O Matias parecia estar a desenvolver Mutismo selectivo...
Pedimos à Maria que não fugisse nunca. Que tentase conversar e fazer amigos na adolescência sem ser fluente.
Pedimos à Mercedes que só fosse a casa de banho se o wellness room onde o silêncio é obrigatório estivesse ocupado.
Deixamos que o Matias fosse tentando comunicar sem o corrigir para se lançar em mais uma língua, e começasse a falar na escola.
E temos muito mais cabelos brancos.
Mas também tenho a certeza que é um privilégio poder partilhar esta experiência transformadora em família.
E desejo profundamente que em todas as situações em que tiverem a tentação de fugir, esconder-se ou ficar mudos, se lembrem do poder que têm para mudar as trajectórias da vida.
Como diz o principal Mr. Courtemarch:
"Use that power for good, and goodness will power you."